O Medo de Viver (Porquê?)


Em tempos falei aqui no meu blogue sobre uma fobia que me tem atormentado a vida desde há 3 anos para cá. Tive fases complicadas de serem controladas e de saber lidar com elas. A fobia é social que do nada apareceu e até ver não tenho conseguido afastá-la de mim. Ela talvez já tenha nascido comigo, mas só há 3 anos atrás é que se manifestou fortemente até hoje. 

Tudo começou por acumular muito stress no emprego que tinha, ou seja, um estágio profissional. O ambiente era pesado e eu levava todos os dias um cansaço psicológico que só eu tenho noção dele, pois vivi-o na pele. Mas fui levando bem, pois o que fazia eu gostava e era isso que me mantia bem disposta em quanto trabalhava lá. Contudo e por vezes nem damos conta, mas o stress acumula-se, os nervos podem nem estar salientes, mas eles andam lá e um dia explodem ser nos darem permissão para tal.

Tive duas recaídas de ansiedade que cada vez mais me abalavam, chegava ao ponto de ir contrariada para trabalhar porque sabia que de alguma maneira estava a pôr a minha saúde abaixo a cada dia que passava. A verdade é que tanto aguentei que pedi ajuda, aquela ajuda para além da que o médico de família nos dá.

Reencaminharam para um psiquiatra e fazer um tratamento, estava com sintomas de um começo de depressão, mas na verdade não era bem isso que estava acontecer, apesar de ser um acumular de problemas na minha cabeça e na minha auto-estima. Andava sem vontade para nada, sem vontade de ver pessoas e muito menos aquelas onde trabalhava, adorava o que fazia, mas o ambiente e a pressão estavam a acabar comigo, porque nunca soube lidar bem com isso. O meu ponto fraco é esse mesmo, é não conseguir enfrentar situações de pressão, de me acanhar quando falam mais alto para mim, de simplesmente querer fazer o meu trabalho e muito bem feito, chegando ao ponto de ser perfeccionista e preocupada demais.

Tudo isso afecta uma pessoa, por mais qualidades que tenhamos, essas por vezes podem tornar-se defeitos por serem qualidades exageradas.

Desde então com o tratamento senti-me melhor e durante uns meses já vivia com um sorriso na cara e bem comigo mesma, pois tinha falta de peso e nisso consegui superar, pois a medicação dava-me apetite. Mas antes disso já tinha acabado o estágio e encontrava-me desempregada. Precisava de recarregar as energias positivas, pois andava esgotada.
Nesses dois anos que passaram, apesar de ter superado aquela fraqueza e ter começado um curso de informática, após o terminar quis largar a medicação por vontade própria.
Confesso que não andava a 100%, pois o meu sistema nervoso manifesta-se muito facilmente, mas a verdade é que todos nós temos o nosso lado ansioso e eu decidi tomar esse passo. Mas o médico disse-me sempre que não. 

Ou seja, e avançando um pouco mais eu já tentei largar por duas vezes e não consegui, pior de tudo, é que a fobia aumentou de uma forma que hoje não a estou a conseguir controlar.
O ano passado ela apareceu de súbito, de um dia para o outro, não conseguia ir a um supermercado com muita gente, não conseguia andar em lojas, não conseguia simplesmente estar bem em público. Sentia-me muito ansiosa, nervosa, com calafrios, transpirava e só queria fugir do local. Isto foi uma batalha que não foi fácil de superar, mas consegui, pelo menos já controlava todos aqueles pensamentos negativos e poderia não me sentir totalmente à vontade nesses locais, mas já os enfrentava sem muito esforço.

Pensei então que uma batalha estava ganha, mas enganei-me redondamente. Continuando desempregada depois do curso tirado, o Inverno instalou-se e vocês sabem que foi a valer. Fechei-me mais em casa, pois vivendo num meio pequeno pouco há para ver e com o tempo de chuva e frio o melhor seria ficar à lareira e sair quando fosse realmente necessário, pois no combustível teria de poupar.

Muita coisa mudou, este ano nos primeiros dias de primavera, sentia-me outra Paula, uma Paula mais vulnerável, frágil e incapaz de viver fora de sua casa. Os ataques de pânico voltaram e com mais força como nunca pensei que viessem. Tenho tentado sair, enfrentado a situação, mas sinto-me sempre mal, a luta que faço comigo mesma é tão exaustiva que me deixa de rastos, deixa-me desmotivada, deixa-me ficar num canto sem puder viver o momento em pleno. Tenho família em casa neste momento, pois vieram de férias, pensei que de alguma maneira me iria fazer bem e faz, mas tem sido um terror para mim sair de casa. Não estou a conseguir ultrapassar desta vez, sinto-me perdida.

A fobia tem de ser enfrentada, eu sei, também sei que não devemos fazer o que ela quer e deixar que ela tome conta de nós. Mas é tão complicado para mim sair e não estar bem, não me sinto à vontade, parece um desespero que me faz querer sair dali e regressar ao meu refúgio. Tenho noção que estou muito pior, pois antes conseguia controlar e agora tem sido tão, mas tão difícil que me vejo a perder tudo de bom que posso ter nesta vida, que é sorrir e divertir-me. Desfrutar.

Parece que já não consigo viver em sociedade, pois isto agonia os meus dias e faz-me fugir de tudo.
Tenho simplesmente medo de sair de casa, eu sei que é estúpido e quem ler isto, talvez não compreenda, mas é isto que eu sinto, é fobia social generalizada que nunca pensei vir a ter e antes de a ter nunca pensei que existisse. 

E o mal disto tudo é que o meu sistema nervoso começa atacar certos órgãos, como por exemplo o fígado. Ou seja, o sistema nervoso faz parte de todos nós, mas também é ele que dá cabe do nosso corpo.
Vou marcar uma consulta, fazer exames e só quero voltar a viver novamente.
Quero ser a mesma Paula que há 3 anos atrás era. Não quero viver em constante medo, não quero perder mais dias da minha vida fechada em casa e querer sair à rua e sentir-me pessimamente mal como se houvesse um grande motivo para isso. Mas se soubessem o quanto complicado é, o quanto há doenças estúpidas e sem explicação óbvia. O quanto é duro passar por elas. Enfim.

Sabem o que é querer sair com a afilhada e estar com ela numa piscina e não conseguir? Sabem o que é querer desfrutar uns dias na praia e não conseguir? Sabem o que é simplesmente ir às compras e fazer tudo há pressa para sair dali?

Estou simplesmente farta desta fobia, está a roubar-me a liberdade.
Odeio-a e revolta-me não ter garra suficiente para a colocar fora da minha vida.

Comentários

  1. Realmente não estás a viver algo agradável e nem imagino como seja viver assim.É uma situação mais grave do que possa parecer,só espero que passe,que consigas dar a volta por cima.

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  2. não é fácil conviver com essa patologia, eu sei porque convivi de perto com ela com um parente bem próximo. mas tenta dar passos pequenos, podes ir com a tua afilhada comer um gelado a um sítio que não tenha muita gentes, começar a ir a sítios que não estejam atolados de gente para começar. Vais ver que vais conseguir ultrapassar isso...é ir tentanto e não desistir. Um dia de cada vez mas sempre a tentar e sem desistir, porque vai chegar o dia em que vences!

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  3. Espero que consigas dar a volta por cima, força e esperança princesa :)
    Beijinhos :)

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  4. Eu compreendo aquilo pelo que estas a passar. Acho que estou a passar pelo mesmo apesar de não ter a certeza...
    Eu sempre fui muito timida por isso sempre tive muita dificuldade em comunicar com as pessoas, fazer amigos e assim. Para teres noçao eu fui da turma de algumas pessoas durante cerca de dois ou tres anos e se falei com eles umas 5 vezes foi muito. Tinha o meu grupo mas nao falava muito mesmo assim.
    Quando entrei na universidade tive que ir para uma cidade nova, longe de casa e dos meus pais. Foi dificil pois nao conhecia ninguem mas uma rapariga meteu conversa comigo logo no primeiro dia e comecei a ter a companhia dela. É um politecnico bem pequeno e a minha turma tem cerca de 12 alunos mas mesmo assim nao me sentia a vontade para me dar com todos. Um dia tive problemas com essa rapariga, chateamo-nos mesmo a serio mas, talvez devido à minha timidez, eu nao consegui sequer discutir com ela, limitei-me a ouvir ela a dizer coisas que nem era verdade e pronto. A partir dai nao sei porque mas nao consegui voltar à escola. Eu sempre tive algumas dificuldades em estar na rua, nao me sinto confortavel e sempre foi assim mas a partir dai tudo mudou. Nao a queria encarar nem os meus colegas e simplemente deixei de conseguir sair de casa para ir às aulas. Reprovei de ano duas vezes, agora devia estar a acabar o terceiro ano e o curso mas ainda so estou no primeiro e nem sei se vou passar. Ja me apercebi de gente que diz que nao vou às aulas por preguiça, nao quero fazer nada mas é mentira. Eu levanto-me e preparo-me todos os dias para ir mas quando tenho qe sair de casa simplesmente nao consigo. Tenho receio de ir, nao sei porque, e de nao saber o que os outros vao pensar de mim... Sei la, fico nervosa, ansiosa e nao consigo sair. Actualmente nao saio de casa, so para ir ao supermercado e quando sou obrigada mas ate isso é um castigo e vou praticamente a correr. Nao sei se isto tudo é apenas timidez ou um problema maior :s
    Desculpa o comentario tao grande, apenas identifiquei-me com a tua publicaçao e deu-me vontade de falar :s

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    1. Olá Cá*

      Não te sei dizer se o que tens é igual à fobia que eu tenho, de facto há partes em que nos identificamos, mas outras nem tanto pelo que li.
      Eu já fui muito timida em criança, mas depois na adolescência e agora em adulta, perdi mais essa timidez e até sou uma pessoa bastante sociável, desde que tenha confiança para tal.

      E isto simplesmente apareceu-me há coisa de 3 anos, antes disso vivia perfeitamente bem, claro que tinha a minha ansiedade, mas nada como agora, nada como não querer sair de casa ou sentir-me mal em público.

      Foi tão de repente que eu por vezes pergunto-me porque razão, porque apareceu assim do nada?

      É tão dificil de explicar, tão dificil perceber, porque não faz qualquer sentido termos medo do que nos rodeia, não faz sentido fugir de algo inofensivo que é estar em sociedade, que é viver o dia a dia saindo da rotina.

      Enfim... não sei se serei a melhor pessoa para te aconselhar, pois estou a tentar lutar contra tudo isto, mas acho que deves recorrer ajuda profissional e saber o que se passa.

      Se quiseres falar mais abertamente comigo, podes o fazer para suspiros.amanhecer@gmail.com :)

      Beijinhos e obrigada por comentares a tua história*

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  5. Oi linda....o tratamento que fizeste/fazes é só à base de medicação? Estás a ser acompanhada psicologicamente? Os poucos conhecimentos académicos que tenho na área reforçam smp a importância destes dois lados da solução.....espero que melhores rápido e q consigas encontrar ajuda realmente capaz de te fazer sair dessa situação porque força de vontade eu sei que tens de sobra :)
    Um beijo enorme e muita força sim? :)

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    Respostas
    1. Ana, já andei a ser seguida por uma psicologa, mas o que ela me diz, já eu sei há muito. Os conselhos que ela me dizia eu tinha consciência que seriam a solução... mas nem sempre é fácil segui-los. Uma delas é ter emprego.

      Sei que não é psicologa nenhuma que me vai tirar isto, porque tudo o que ela me dizia, já eu sabia. E a medicação pode ajudar, mas nunca é suficiente para ultrapassar aquilo que está permanentemente na nossa mente.
      Sei que o principal está dentro de mim, na minha luta e garra contra todos os pensamentos negativos, mas desta vez não tem sido fácil, nada mesmo.

      Chego por vezes a casa exausta, com dores de cabeça, tal é a luta que faço comigo mesma.

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  6. Espero que consigas dar a volta! Força!!! :)

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